Os festivais da dança das tesouras na serra peruana

A Dança das Tesouras, ou Danza de las Tijeras, é uma das danças mais interessantes e emocionantes do Peru, rica em simbolismo, espiritualidade e tradição. Essa dança, que se destaca por suas acrobacias impressionantes, faz parte da cultura andina e reflete a conexão profunda que as comunidades indígenas mantêm com a terra e suas divindades. 

Esta dança é um símbolo vivo da resistência cultural andina, preservando elementos das antigas crenças indígenas, mesmo após a chegada dos colonizadores espanhóis no século XVI. Neste conteúdo, vamos conhecer um pouco mais sobre essa prática, reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, e entender por que ela continua a encantar espectadores de todo o mundo.

O que é a dança das tesouras?

A Dança das Tesouras é uma das danças típicas do Peru, especialmente presente nas regiões da serra, como Ayacucho, Huancavelica e Apurímac. É uma dança tradicional que remonta a tempos pré-hispânicos e está profundamente enraizada nas crenças espirituais dos povos andinos. Os dançarinos, conhecidos como wasin tusuq ou danzaq, competem entre si em uma série de movimentos ágeis e complexos, manuseando duas lâminas de ferro (as “tesouras”), que são batidas uma contra a outra para criar um som único.

O movimento das lâminas durante a dança simboliza o equilíbrio entre forças opostas: céu e terra, bem e mal, dia e noite. Essa ideia de dualidade é central para a cosmovisão andina, e a dança reflete essa filosofia em cada passo e salto que os dançarinos executam.

Dança das tesouras, uma expressão artística milenar.

A história da dança das tesouras

A história dessa dança remonta ao século XVI, durante a colonização espanhola no Peru. Embora a Dança das Tesouras tenha raízes indígenas, ao longo dos anos, ela incorporou elementos europeus. Por exemplo, os trajes usados pelos dançarinos remetem às vestimentas dos colonizadores, com ricos bordados e detalhes que refletem o sincretismo entre as culturas.

Além disso, durante a era colonial, surgiram diversas lendas envolvendo a dança das tesouras. Uma das mais conhecidas é a ideia de que os dançarinos faziam pactos com o diabo para ganhar habilidades sobre-humanas. Eles são até chamados de supaypa wasin tusuq, ou “dançarinos da casa do diabo”, como uma forma de enfatizar o caráter místico e desafiador da dança.

Dança das tesouras, na serra peruana.

O simbolismo espiritual da dança

Mais do que uma simples demonstração de habilidade física, a dança com acrobacias tem um significado espiritual profundo. Os dançarinos realizam seus movimentos como uma forma de honrar as divindades andinas e a natureza. A dança era originalmente executada em rituais religiosos, destinados a pedir fertilidade, boa colheita e proteção para a comunidade.

Outro aspecto interessante é que essa dança é associada à resistência à dor. Durante a performance, os wasin tusuq ou danzaq demonstram uma grande força física e mental, realizando movimentos desafiadores que testam os limites do corpo. Isso simboliza a capacidade de superação e a conexão com o mundo espiritual, já que, segundo a tradição, os dançarinos precisam provar sua resistência para serem considerados verdadeiros guerreiros espirituais.

Dança das Tesouras é a competição entre mulheres.

Uma competição espetacular

Um dos elementos mais marcantes da Dança das Tesouras é a competição entre homens e mulheres. Embora seja mais comum ver homens participando da dança, há registros históricos de mulheres também competindo, especialmente em versões mais recentes dos festivais.

O objetivo dessa competição é demonstrar habilidade, destreza e resistência física. Os dançarinos competem entre si para ver quem realiza os movimentos mais complexos e acrobáticos. Esse duelo é conhecido como Atipanacuy, e é um dos momentos mais esperados pelos espectadores, já que as performances se tornam cada vez mais intensas à medida que os dançarinos tentam superar uns aos outros.

Dança das Tesouras é a competição entre homens.

Dança das tesouras: patrimônio cultural

A importância dessa dança foi reconhecida mundialmente em 2010, quando a UNESCO a declarou como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Esse reconhecimento é um marco não apenas para os dançarinos e suas comunidades, mas para todo o Peru, que valoriza profundamente suas tradições e cultura. Além disso, a dança também é considerada Patrimônio Cultural da Nação, reforçando sua relevância dentro do próprio país.

Com esse título, a dança das tesouras ganhou maior visibilidade e hoje faz parte de muitos festivais importantes no Peru, especialmente durante o Natal e nas celebrações de São Pedro, quando os dançarinos se reúnem em grandes competições.

Os tipos de dança e as festividades

Existem duas formas principais dessa dança: a Danza Mayor, que é a versão competitiva, com movimentos mais complexos e acrobacias desafiadoras; e a Danza Menor, que é mais suave e frequentemente realizada em ocasiões menos formais. Ambas as versões são executadas durante festivais tradicionais, como o Natal e a celebração de Corpus Christi, atraindo tanto turistas quanto locais para assistir às competições.

Esses festivais acontecem em várias partes do Peru, sendo Ayacucho um dos principais centros de celebração. Durante os festivais, os dançarinos se preparam por meses, treinando e aperfeiçoando seus movimentos. As danças são acompanhadas por música tradicional, tocada com instrumentos andinos como o violino e a harpa, criando uma atmosfera mágica.

 Dança das tesouras, típica dos Andes peruanos.

Sincretismo religioso e o papel do “dançarino da casa do diabo

Um dos aspectos mais fascinantes da dança das tesouras é seu sincretismo religioso. Durante a colonização, a dança, que antes era puramente uma expressão religiosa andina, começou a incorporar elementos do cristianismo. A figura do “diabo”, por exemplo, é uma adição europeia à mitologia da dança.

Os dançarinos, chamados de supaypa wasin tusuq (“dançarinos da casa do diabo”), muitas vezes são vistos como aqueles que fizeram pactos com espíritos para obter suas habilidades sobre-humanas. Essa crença, embora refutada pela maioria dos praticantes, ainda faz parte do folclore popular e adiciona uma camada de misticismo à dança.

O violino e a harpa acompanham com a música.

A dança das tesouras hoje

Hoje, a Dança das Tesouras continua a ser uma expressão vibrante da cultura peruana. Ela não é só uma representação da história, mas também uma prova da resistência e da capacidade das tradições andinas de se adaptarem ao mundo moderno. Em um país tão diverso como o Peru é, a dança serve como um símbolo de identidade cultural, mantendo vivas as crenças e práticas dos antepassados.

Ela também atrai um número crescente de turistas e estudiosos interessados nas danças peruanas e nas tradições dos Andes. Seja nos grandes festivais ou em performances menores, a dança das tesouras continua a encantar e inspirar com sua mistura única de cultura, espiritualidade e competição.

Dançarinos de tesouras dançando com destreza.

Finalmente, a dança das tesouras é muito mais do que uma dança com acrobacias impressionantes. É executada como um ritual, uma competição e uma forma de manter viva a rica tradição andina. Com seu reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, essa dança continua a ser um dos maiores tesouros culturais do Peru e um espetáculo que todos deveriam conhecer e apreciar.

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