Chuño: a técnica milenar dos Andes para conservar batatas

Se você gosta de conhecer culturas diferentes e descobrir alimentos peculiares, provavelmente já ouviu falar do chuño. Mas, se ainda não conhece, prepare-se para uma viagem aos Andes peruanos. O chuño é um alimento milenar que chama a atenção pela forma engenhosa como é produzido e pela sua importância histórica para os povos andinos. 

Neste artigo, vou te contar tudo sobre essa batata desidratada, explicar como ela se tornou um alimento básico em regiões de alta altitude e mostrar a relevância dessa tradição para a segurança alimentar local. Acompanhe-me nessa conversa leve e descubra o fascinante universo do chuño!

O que é chuño?

O chuño é uma batata desidratada que existe há séculos. Ele foi criado pelos povos andinos para conservar alimentos por mais tempo. O processo usa o frio das montanhas para secar a batata, mantendo seus nutrientes. Nos Andes, onde a batata surgiu, há muitas variedades desse alimento, e o chuño é um dos mais importantes para a cultura local.

Os incas já faziam chuño muito antes da chegada dos espanhóis. Com o tempo, essa tradição continuou nas comunidades andinas. O motivo é simples: o chuño pode durar anos sem estragar. Isso ajuda muito quem vive em regiões frias e isoladas, onde falta comida em algumas épocas do ano. 

Hoje, ele ainda é um ingrediente essencial na culinária dos Andes.

O chuño é uma batata desidratada usada na culinária andina.

O papel dos povos andinos e a importância cultural 

Os povos andinos sempre souberam cultivar alimentos em altitudes extremas. A batata é um dos principais, com muitas variedades que só existem nessa região. Para eles, a batata não é apenas um alimento, mas uma parte essencial da vida. Ela sempre foi a base da alimentação e garantiu sustento para muitas famílias ao longo da história.

A produção do chuño também tem grande valor cultural. O conhecimento é passado de geração em geração, ensinando quando colher, como pisotear as batatas e a melhor forma de secá-las. Em algumas comunidades, o processo inclui cantos e rituais para agradecer à Pachamama (Mãe Terra). Isso mostra que o chuño não é só um alimento, mas um símbolo da forte ligação desse povo com suas tradições.

O chuño preto e a moraya são variedades de batatas desidratadas.

Como o chuño é feito: o processo de desidratação

Você pode estar se perguntando: “Qual é o segredo para fazer uma batata durar tanto tempo?”. Bem, o preparo é relativamente simples, mas requer paciência e atenção. O método tradicional do chuño consiste em expor as batatas, geralmente de tamanho menor ou de variedades específicas, a sucessivas noites geladas e dias de sol forte nas altitudes dos Andes. Durante a noite, a temperatura pode cair abaixo de zero, congelando as batatas; durante o dia, o sol ajuda a descongelar e a secar esses tubérculos.

  1. Seleção das batatas: Primeiramente, escolhem-se batatas sem danos, preferencialmente das variedades de batatas próprias para fazer chuño (as de polpa mais firme costumam ser as melhores).
  2. Exposição ao frio: Em seguida, as batatas são espalhadas no chão e deixadas durante a noite nas altas montanhas, onde as temperaturas negativas as congelam. A temporada de geadas nos Andes peruanos ocorre nos meses de junho e julho.
  3. Pisoteio: Depois de alguns dias, as pessoas pisoteiam as batatas para remover o excesso de água, facilitando a secagem. É um momento comunitário, pois muitas famílias se reúnem para essa tarefa.
  4. Secagem natural ao sol: Por fim, as batatas já congeladas e parcialmente amassadas são deixadas sob o sol intenso. Esse processo se repete por dias até que fiquem leves, secas e totalmente livres de umidade

O resultado final é a batata desidratada que chamamos de chuño. Ao preparar receitas, basta reidratar o chuño em água morna. Ele adquire textura macia e um sabor característico que combina perfeitamente com sopas, ensopados e outros pratos típicos peruanos.

O processo de fazer o chuño preto nos Andes peruanos.

Chuño preto x chuño branco

Você sabia que existem duas versões principais do chuño? Apesar de a base ser a mesma, o chuño pode ficar com colorações diferentes de acordo com o procedimento de lavagem e o tipo de batata utilizado.

  • Chuño preto: Geralmente produzido com batatas mais escuras, que não passam por processo de lavagem com água corrente após serem pisoteadas. Esse tipo costuma ter um sabor mais intenso e cor escura, quase preta.
  • Chuño branco (Moraya): Nesse tipo, as batatas congeladas são deixadas em água corrente por vários dias antes da secagem. Esse processo ajuda a remover a casca e deixa as batatas brancas ou muito claras. O sabor é mais suave, e a textura, quando reidratada, costuma agradar quem prefere pratos com um gosto menos intenso.

Ambos podem ser usados em receitas similares, mas cada um traz nuances especiais de sabor. Para quem quer experimentar a gastronomia peruana de forma autêntica, vale a pena provar os dois tipos.

A moraya é o chuño branco, enquanto o chuño preto é a outra versão.

Por que o chuño é importante para a segurança alimentar?

Um dos motivos centrais que explicam a relevância do chuño é o seu papel na segurança alimentar das comunidades andinas. Lugares de altitude muito elevada sofrem com invernos rigorosos, chuvas irregulares e períodos de geada prolongada. Nesses cenários, garantir um estoque de comida que dure por meses ou até anos é fundamental.

O chuño, por ser uma batata desidratada, ocupa pouco espaço, não necessita de refrigeração e pode ser transportado facilmente. Dessa forma, ele se torna um verdadeiro salvador em períodos de pouca colheita ou dificuldades de acesso a alimentos frescos. Além disso, apresenta valor nutricional interessante: é fonte de carboidratos, potássio e outros micronutrientes essenciais. Em outras palavras, é um tesouro culinário e nutricional para muitas famílias nos Andes.

Moraya cozida com queijo e salada.

Variedades de batatas e sustentabilidade

Sempre que falamos de batatas no Peru, precisamos lembrar que o país possui uma das maiores biodiversidades de batatas do mundo. São variedades de batatas que vão desde pequenos tubérculos de casca roxa até espécies com interior alaranjado. O incrível é que muitas dessas batatas também podem ser transformadas em chuño, adaptando o método ao tipo escolhido.

Esse cuidado com a biodiversidade mostra como a cultura do chuño reforça também um aspecto de sustentabilidade. Ao preservar diferentes variedades, os camponeses mantêm viva a riqueza agrícola local e protegem plantas que podem ser mais resistentes a pragas e variações climáticas. Logo, não se trata apenas de ter um estoque de comida, mas sim de manter um sistema de cultivo equilibrado, diversificado e resiliente.

O chuño é uma batata desidratada durante a época de geada nos Andes.

Receitas típicas e usos na culinária

Na hora de cozinhar, o chuño se revela bastante versátil. Embora o método tradicional seja reidratá-lo, deixando-o de molho na água por algumas horas, há quem goste de usar direto em sopas e ensopados, permitindo que o próprio caldo faça a hidratação. Uma receita comum é a “chuño lawa”, espécie de sopa engrossada com pedaços de chuño, carne e legumes. O resultado é um caldinho reconfortante, muito apreciado nas noites frias de altitude.

Outra opção é incluir o chuño em guisados, como um substituto (ou complemento) do arroz ou da batata fresca. Por ser um ingrediente com alto teor de amido, ele contribui para engrossar e dar mais consistência aos pratos. Se você visitar o Peru ou regiões andinas, não deixe de provar as especialidades feitas com esse ingrediente único!

Se você tiver a oportunidade de viajar ao Peru, poderá comprar chuño diretamente das comunidades, em mercados locais. Isso não apenas garante a qualidade do produto, como também apoia os agricultores andinos que mantêm viva essa tradição.

Sopa andina feita com chuño e outros ingredientes típicos da região.

Curiosidades: ritual, comunidade e tradição

Além do aspecto prático, há muito simbolismo em torno da produção do chuño. Em diversas regiões dos Andes, a época de “fazer chuño” reúne famílias inteiras em torno de uma mesma tarefa comunitária. Durante o pisoteio das batatas congeladas, é comum ouvir cantos e conversas animadas, afinal, esse é um momento em que todos trabalham juntos pelo bem comum. Existem até crenças de que a forma como a pessoa pisa as batatas influencia no sabor final do chuño.

Em algumas festas tradicionais, como as dedicadas à Pachamama, há até concursos que premiam as melhores produções de chuño, reforçando o valor cultural desse alimento que vai além do simples ato de comer. Tais rituais mostram como o chuño está profundamente enraizado na história e na identidade dos povos andinos.

O processo de fazer o chuño é um legado ainda deixado pelos incas.

Considerações finais

O chuño não é apenas uma batata desidratada, mas um verdadeiro símbolo da cultura andina. Ele representa o conhecimento dos povos indígenas sobre a natureza e sua capacidade de adaptação. Esse método de conservação, passado de geração em geração, permite que o alimento dure por anos, garantindo segurança alimentar em regiões de clima extremo. Além disso, o chuño mostra como a tradição pode ser uma solução sustentável para o futuro da alimentação.

Se você gosta de gastronomia e cultura, vale a pena experimentar esse ingrediente e conhecer de perto o trabalho das comunidades andinas. E se estiver viajando pelo Peru, explore com a Viagens Machu Picchu! Confira nossos pacotes para Machu Picchu e outros destinos incríveis que nosso maravilhoso país tem a oferecer. Descubra o melhor da culinária local e viva uma experiência única na terra dos incas!