Q’eswachaka: descubra a última ponte suspensa inca

Situada no coração do Peru, a ponte Q’eswachaka é um exemplo vivo da engenhosidade e da cultura dos Incas, preservada por gerações. Mais do que uma simples estrutura de passagem, essa ponte é uma tradição centenária que continua a ser renovada ano após ano pelas comunidades andinas. Sobre o rio Apurímac, na região de Cusco, a 3.700 metros de altitude, encontra-se esse importante legado dos incas que permanece ativo há mais de seiscentos anos.

A cada ano os moradores se reúnem para desmontar a ponte do ano anterior, soltando suas bases no rio. Logo em seguida, mulheres e crianças recolhem o qoya-ichu, uma palha especial usada para fazer as novas bases da ponte. Neste conteúdo, vamos mergulhar na fascinante história de Q’eswachaka, o processo de renovação anual, sua importância cultural e as dicas essenciais para quem deseja conhecer esse legado vivo da história inca.

O que é a ponte Q’eswachaka?

A ponte de Q’eswachaka, localizada sobre o rio Apurímac, na região de Cusco, é uma ponte suspensa construída inteiramente de fibras vegetais. Feita à mão, utilizando técnicas incas que sobreviveram por mais de 500 anos, ela é um verdadeiro símbolo da herança cultural do Peru. O nome “Q’eswachaka” deriva das palavras quechuas “q’eswa” (trança) e “chaka” (ponte), refletindo o método artesanal usado para trançar as cordas que sustentam a estrutura.

Com cerca de 28 metros de comprimento e suspensa a 30 metros de altura sobre o rio, Q’eswachaka é a última ponte inca desse tipo que ainda existe. Essa construção de fibra vegetal é renovada anualmente por comunidades locais, mantendo viva uma tradição que remonta à época dos Incas.

Ponte suspensa de trança de palha andina.

A história e a tradição ancestral

A história de Q’eswachaka está diretamente ligada ao legado cultural e religioso dos Incas. Antes da chegada dos espanhóis, os Incas utilizavam várias pontes suspensas para cruzar os desfiladeiros montanhosos do Peru. No entanto, a maioria dessas pontes foi destruída ao longo dos séculos, seja devido às guerras ou ao desgaste natural. A Q’eswachaka, no entanto, sobreviveu graças ao esforço contínuo das comunidades locais.

As comunidades de Huinchiri, Chaupibanda, Choccayhua e Ccollana Quehue são responsáveis pela manutenção e renovação da ponte. Todos os anos, no mês de junho, essas famílias se reúnem ao estilo da minka incaica, ou trabalho comunitário, para renovar completamente a estrutura, utilizando técnicas transmitidas de geração em geração.

Q’eswa, cordas mais finas trançadas com palha andina.

O processo de renovação da ponte

A renovação da ponte Q’eswachaka é um evento altamente simbólico e é realizada com base em rituais ancestrais que envolvem toda a comunidade. O processo começa com a coleta do ichu ou qoya, uma palha nativa dos Andes, que é usada para tecer as cordas. A fibra vegetal é colhida com antecedência e deixada para secar. Em seguida, as mulheres da comunidade trançam essas fibras, criando as cordas mais finas chamadas de q’eswa​.

O processo de renovação da ponte dura quatro dias e é conduzido de acordo com as tradições incas, começando com um ritual religioso que pede a bênção dos Apus (divindades das montanhas) e da Pachamama (Mãe Terra). Um sacerdote andino, chamado Paqo, lidera a cerimônia, garantindo que todo o processo tenha a proteção espiritual necessária​.

Comunidade andina trançando as cordas de palha usadas na renovação da ponte Q’eswachaka.

O processo de renovação de quatro dias:

  • Primeiro Dia: No primeiro dia, as mulheres começam a trançar as cordas com o ichu, enquanto os homens preparam as cordas maiores, chamadas q’eswascas, que servirão como base e corrimão da ponte. Esse dia é dedicado à coleta e preparação dos materiais​.
  • Segundo Dia: O segundo dia é marcado pela remoção das antigas cordas e pela instalação das novas cordas principais. Quatro cordas grossas são fixadas de um lado a outro do desfiladeiro, criando a base da ponte​.
  • Terceiro Dia: O terceiro dia é dedicado à finalização. Os homens da comunidade trançam as cordas laterais que formam o corrimão da ponte, garantindo sua estabilidade e segurança. Todo o processo é supervisionado pelo Chakaruwaq (construtor de pontes), o engenheiro local, que assegura que a ponte seja construída corretamente​.
  • Quarto Dia: No último dia, após a conclusão dos trabalhos, a comunidade celebra com uma grande festa. Esse é um momento de alegria, com danças tradicionais, música e comidas típicas, como cuy (porquinho-da-índia) assado e porco assado. A ponte é então oficialmente reaberta e pode ser usada por moradores e turistas.
Os homens da comunidade trançam as cordas laterais que formam o corrimão da ponte.

A importância cultural e espiritual

A renovação anual da ponte Q’eswachaka não é apenas uma questão de preservação física, mas também um ritual que reforça a identidade cultural das comunidades locais. As cordas são refeitas não só para garantir a segurança da ponte, mas também para manter as tradições espirituais e sociais vivas. Segundo a crença local, a não renovação da ponte pode trazer maus presságios, como secas ou granizo, afetando a colheita agrícola​.

Além disso, o processo é uma forma de fortalecer os laços comunitários. Todas as famílias participam ativamente, seja coletando o ichu, trançando as cordas ou montando a ponte. Essa cooperação mútua reflete um dos princípios básicos da sociedade inca: o ayni, que é o conceito de trabalho coletivo em prol de um bem comum.

Q’eswachaka, a última ponte suspensa inca.

Um legado do Qhapaq Ñan

Os especialistas dizem que a ponte Q’eswachaka é um dos maiores legados da antiga rede de estradas pré-hispânicas do Império Inca, conhecida como Qhapaq Ñan. Essa rede é considerada uma das maiores realizações de engenharia de toda a história.

Essas estradas ajudaram o Império Inca a se expandir, conectando regiões distantes por meio de uma série de rotas. Para construir esse sistema, foi preciso fazer pontes para atravessar a difícil geografia dos Andes. Algumas dessas pontes eram de pedra, outras de madeira e palha. Também foram criadas pontes suspensas feitas com fibras vegetais.

Q’eswachaka, sobre o rio Apurímac, na região de Cusco.

Turismo e como visitar a ponte Q’eswachaka

A ponte de Q’eswachaka é um destino turístico cada vez mais popular. Para os viajantes que desejam experimentar essa herança cultural única, existem várias formas de visitar a ponte. O caminho mais comum é a partir de Cusco, a capital do antigo Império Inca. A viagem até a ponte leva cerca de quatro horas, e pode ser feita de carro ou ônibus.

Existem também tours organizados por agências de turismo, que geralmente incluem transporte, guias locais e paradas em outros pontos turísticos da região, como as Quatro Lagoas. O tour oferece uma imersão total na cultura andina, com a oportunidade de aprender mais sobre as tradições locais e a história dos Incas.

Se você está planejando visitar a ponte durante o festival de renovação, que ocorre no início de junho, é recomendável reservar com antecedência, pois a demanda costuma ser alta nessa época. Além disso, durante os dias de renovação, a ponte fica fechada para atravessia, então é importante planejar a viagem levando em consideração essa restrição.

Q’eswachaka, a última ponte inca, feita de palha andina.

Dicas essenciais para sua visita

Aqui estão algumas dicas práticas para quem planeja visitar a ponte Q’eswachaka:

  • Roupas confortáveis: O clima nos Andes pode ser imprevisível, então é aconselhável levar roupas em camadas para se adaptar às mudanças de temperatura.
  • Sapatos adequados: Como você vai caminhar em terrenos irregulares, calçados confortáveis e com boa aderência são essenciais.
  • Água e lanches: Durante a visita, as opções de comida são limitadas, então leve água e lanches suficientes para o passeio.
  • Respeito às tradições: Lembre-se de que a renovação da ponte é um evento profundamente espiritual e cultural para as comunidades locais. Mostre respeito e siga as orientações dos guias e dos moradores​.

A ponte de Q’eswachaka não é apenas uma maravilha da engenharia inca, mas também um símbolo da resistência cultural. Renovada todos os anos por mãos habilidosas, ela continua a conectar gerações e a preservar a herança de um povo que nunca deixou de honrar suas tradições. Visitar Q’eswachaka é muito mais do que uma aventura; é uma oportunidade de se conectar com a história viva dos Incas e de celebrar a força e a unidade das comunidades andinas.

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