O que é o Inti Raymi: Tudo que você precisa saber

Também conhecida como a “Festa do Sol”, esta é a celebração mais importante dos Andes, um marco deixado para trás pelo poderoso Império Inca. Esta famosa festividade da América do Sul tem sido realizada ao longo de séculos, apesar da coroa espanhola ter imposto a eliminação de cerimônias de adoração durante o período de colonização.

Atualmente, esta festa é celebrada em vários países que um dia fizeram parte do império Tahuantinsuyo, como o Equador, Chile, Bolívia, Colômbia e, mais importante, o Peru. O Inti Raymi costumava marcar o início do Ano Novo Inca e o solstício de inverno, hoje ela é vista como uma celebração que busca comemorar a memória dos antigos peruanos.

Esta famosa festividade é celebrada todo 24 de junho, principalmente na cidade de Cusco, com uma “pequena” representação de como poderia ser o ritual durante os tempos Inca. A Inti Raymi atrai milhares de estrangeiros e viajantes nacionais com sua expressão cultural vívida, onde centenas de dançarinos, músicos e atores performam uma das tradições mais importantes da cultura Inca.

No entanto, há muito mais para conhecer sobre este festival fascinante e aqui reunimos alguns dos fatos históricos que você precisa saber!

Por que o Inti Raymi era celebrado?

O Festival do Sol foi estabelecido pelo Sapa Inca Pachacutec, no ano de 1412 d.C. para comemorar o solstício de inverno e também o Deus do Sol “Inti”, que era admirado e respeitado como o único deus universal, neste contexto também era celebrado o Ano Novo Inca.

Esta festa também simbolizava as origens míticas do povo Inca, reconhecendo-os como descendentes do primeiro Inca Manco Cápac e Mama Ocllo, que eram conhecidos como Filhos do Sol.

De acordo com alguns cronistas, o Inti Raymi foi criado por três motivos: para reconhecer a gratidão ao Deus Sol, honrar a memória dos primeiros governantes Inca e para alegrar o povo do império.

Embora tenha sido principalmente uma celebração religiosa, ela também demonstrava a hierarquia entre o povo comum e a elite Inca, e mostrava o quão distante eles eram do restante da população, devido à riqueza que o festival concentrava.

No entanto, é possível que esta festividade tenha se tornado uma característica popular ao longo do império, já que todas as nações celebravam o Inti Raymi simultaneamente, enquanto a festividade ocorria em Cusco; e a celebração ficava ainda maior nos locais onde o governante Inca estava localizado naquele momento.

O Inti Raymi durante os tempos Inca

Existiam inúmeros festivais celebrados durante o regime dos Incas, mas nenhum deles possuía a mesma dimensão do Inti Raymi. De acordo com cronistas, esta festividade foi, como se esperava, uma expressão cultural que reunia diferentes entidades andinas, onde cada comunidade se manifestava completamente em uma grande festa para o Sol.

As fantasias usadas eram cheias de cores, com peças de ouro e prata agregadas ao tecido, além de fascinantes adereços de cabeça, ou seja, eram roupas extremamente chamativas. Cada uma das nações do império costumava trazer músicos, cantores, atores, dançarinos e muito mais, assim unindo diversos costumes e culturas a cada ano para homenagear o Deus Sol e Tahuantinsuyo.

Inti Raymi era celebrado em cada canto império, sem considerar de onde o Inca que governava poderia estar. Embora não fosse obrigatório comparecer, os principais governantes se sentiam obrigados a participar tanto por disciplina, quanto por conveniência, mas, principalmente, porque eles aproveitavam e se sentiam honrados ao estar nesta festividade.

Entretanto, se um convidado real não estivesse disponível para comparecer, eles enviavam um representante credenciado, que normalmente era um irmão, filho ou algum familiar ou pessoas com tais características.

A presença de mulheres no festival era limitada à Mamaconas e Acllas, que ofereciam seus serviços para alguns rituais e para servir nas cerimônias no final do evento. As Coya, irmãs, esposas e amantes foram proibidas de fazer parte da festividade. 

A participação popular não era inteiramente excluída desta celebração, já que as massas camponesas seguiam a festividade à distância e celebravam de sua própria maneira. Somado a isso, a festa em homenagem ao Deus Sol era celebrada em todas as cidades do império, e a mobilização de uma província para outra era proibida, limitando pessoas comuns de celebrar somente entre si.

Sendo o Inti Raymi uma festividade com fundamento religioso, o Inca, como Filho do Sol, realizava a função de principal Sacerdote nas cerimônias inaugurais, que iniciavam a celebração na praça Huacaypata (atual Plaza de Armas de Cusco).

Neste local, reunido com mais de 300 pessoas, eles cantavam em harmonia enquanto aguardavam a alvorada e, conforme os primeiros raios de Sol iluminavam o céu, estas canções se tornavam mais altas, como se quisessem receber, abraçar e beijar este poderoso deus.

Durante o festival, eles faziam adorações no Templo Coricancha, eles também costumavam sacrificar cerca de 100 animais ou mais em honra ao Deus Sol, assim como para o Deus Viracocha e ao Deus do Trovão.

Os Incas também possuíam o costume de apagar todas as fogueiras na cidade e acender novas com a ajuda direta do Sol, que podia queimar toda palha seca ou algodão. Com este fogo, eles queimavam os sacrifícios que haviam realizado e cozinhavam as refeições do dia. 

Além das orações, canções, danças, sacrifícios e brindes, eles costumavam fazer uma procissão, onde pegavam as múmias dos reis e, com muito orgulho, relembravam suas origens.

Ao final da celebração, todas as oferendas eram consumidas em uma grande fogueira que queimava no fechamento do Inti Raymi, para mais tarde espalhar suas cinzas em um lugar sagrado, no qual apenas sacerdotes selecionados tinham acesso e o próprio Inca liderava a última procissão. 

Depois disso, o imperador se dirigia até a praça Huacaypata, onde ele passaria o restante do dia em um estado de contemplação e, depois, retornaria para casa ao cair da noite. Finalmente, o restante dos governadores retornava para suas terras e, portanto, o festival de Inti Raymi se dava por terminado.

Existem inúmeros cronistas que indicam que o Inti Raymi durava até 1 mês durante a era Inca, embora outros contestem esta hipótese, relatando que duravam de 8 a 9 dias somente.

Da mesma forma, a data em que celebravam esta festividade podia variar de acordo com a data do solstício, logo, afirmar que a Festa do Sol ocorria sempre no 24 de junho de cada ano é algo completamente errôneo.

Felizmente, a memória de Inti Raymi não foi completamente extinguida do vilarejo Inca, já que a tradição prevaleceu nos corações de cada uma das pessoas daquele povo e continuou a ser celebrada em segredo até mesmo depois de ser proibida por um mandato do Vice-Rei Francisco de Toledo, em 1572.

O Inti Raymi atualmente

Hoje em dia, o Inti Raymi é a segunda maior celebração da América do Sul, logo após o Carnaval do Rio de Janeiro, e embora seja amplamente celebrada em diferentes comunidades andinas, foi somente em 1944 que este antigo ritual foi redescoberto e revelado ao mundo.

Faustino Espinoza Navarro e Humberto Vidal Unda recriaram o ritual de Inti Raymi a partir do Comentario Reales de los Incas, um livro escrito por Inca Garcilaso de la Vega, nascido na primeira geração após a colonização espanhola.

Eles escreveram o primeiro roteiro de teatro desta importante celebração para 600 atores. Fausto deu vida ao Inca por 14 anos consecutivos e, atualmente, segue sendo uma das celebrações mais importantes da região de Cusco, atraindo visitantes de todo o mundo.

A Inti Raymi foi declarada um Patrimônio Cultural do Peru e Cerimônia de Ritual de Identidade Nacional, em 2001. Atualmente, ela é celebrada todo 24 de junho em vários locais dentro de Cusco, como no Templo Qoricancha, na Plaza de Armas de Cusco e na Fortaleza Cerimonial de Sacsayhuaman.

Como participar da Inti Raymi?

Como mencionamos acima, o festival Inti Raymi ocorre anualmente no dia 24 de junho, no pico da alta temporada turística no Peru. A celebração atrai não apenas visitantes nacionais, como também pessoas de todo o mundo, por isso, você vai precisar chegar cedo em qualquer um dos três locais onde a celebração é performada.

Não há taxa de ingresso para desfrutar desta experiência cultural mágica, já que as cerimônias ocorrem em espaços públicos. Entretanto, o principal ritual é performado no Sítio Arqueológico de Sacsayhuaman, e embora você possa assiti-la dos arredores, também é possível comprar uma entrada para assistir à apresentação de dentro das ruínas.

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